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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Considerações sobre a extensão rural no Brasil

O modelo produtivo agropecuário adotado no Brasil a partir da década de 1960 foi implantado graças a uma ação conjunta e organizada pelo tripé: ensino, pesquisa e extensão. Isto é, universidades, órgãos de pesquisa e de extensão rural foram os responsáveis pela introdução dos pacotes tecnológicos voltados para a utilização intensiva de insumos e máquinas, com o objetivo do aumento da produtividade.
A extensão rural no Brasil nasceu sob o comando do capital, com forte influência norte-americana e visava superar o atraso na agricultura. Para tanto, havia a necessidade de “educar” o povo rural, para que ele passasse a adquirir equipamentos e insumos industrializados necessários à modernização de sua atividade agropecuária, com isso ele passaria do atraso para a “modernidade”. O modelo serviria para que o homem rural entrasse na dinâmica da sociedade de mercado, produzindo mais, com melhor qualidade e maior rendimento.

Um modelo “tecnicista”, isto é, com estratégias de desenvolvimento e intervenção que levam em conta apenas os aspectos técnicos da produção, sem observar as questões culturais, sociais ou ambientais. Com raízes “difusionistas”, pois visa apenas divulgar, impor ou estender um conceito, sem levar em conta as experiências e os objetivos das pessoas atendidas.

Atende necessidades sociais..??




Fases da extensão rural no Brasil

A primeira fase, chamada “humanismo assistencialista”, prevaleceu desde 1948 até o início da década de 1960, nela os objetivos do extensionista eram o de aumentar a produtividade agrícola e, conseqüentemente, melhorar o bem estar das famílias rurais com aumento da renda e diminuição da mão-de-obra necessária para produzir. Em geral, as equipes locais eram formadas por um extensionista da área agrícola e um da área de Economia Doméstica.
Apesar de levar em conta os aspectos humanos, os métodos dos extensionistas nessa época também eram marcados por ações paternalistas. Isto é, não “problematizavam” com os agricultores, apenas procuravam induzir mudanças de comportamento por meio de metodologias preestabelecidas, as quais não favoreciam o florescimento da consciência crítica nos indivíduos, atendendo apenas as suas necessidades imediatas.
A segunda fase, que orientou as ações dos extensionistas no período de abundância de crédito agrícola subsidiado (1964 a 1980), era chamada de “difusionismo produtivista”, baseando-se na aquisição por parte dos produtores, de um pacote tecnológico modernizante, com uso intensivo de capital (máquinas e insumos industrializados). A extensão rural servia como instrumento para a introdução do homem do campo na dinâmica da economia de mercado. A Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) visava o aumento da produtividade e à mudança da mentalidade dos produtores, do “tradicional” para o “moderno”.

A extensão era um empreendimento que visava persuadir os produtores, para que esses adotassem as novas tecnologias. Seus conhecimentos empíricos não interessavam, bem como suas reais necessidades não eram levadas em conta. A extensão assumiu um caráter tutorial e paternalista.


Ao alcance de todos????


 
Foi durante esse período que surgiu a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER) e houve grande expansão do serviço de extensão rural no país. Para se ter uma idéia, em 1960 apenas 10% dos municípios no Brasil contavam com esse serviço e em 1980 a extensão rural chegou a 77,7%. Entretanto, como o papel dos extensionistas era condicionado pela existência do crédito agrícola, os pequenos agricultores familiares que não tiveram acesso ao crédito também ficaram à margem do serviço de extensão rural.

Do início dos anos 1980 até os dias atuais, devido principalmente ao término do crédito agrícola subsidiado, iniciou-se no país uma nova proposta de extensão rural, que preconizava a construção de uma “consciência crítica” nos extensionistas. O “planejamento participativo” era um instrumento de ligação entre os assessores e os produtores, com bases na pedagogia da libertação desenvolvida por Paulo Freire. Essa fase foi chamada de “humanismo crítico”.


Metodologias participativas !
Seus defensores afirmam que as metodologias de intervenção rural devem pautar-se por princípios participativos, que levem em conta os aspectos culturais do público alvo. A grande diferença de orientação entre as metodologias de extensão na era do “difusionismo produtivista” e da era do “humanismo crítico” é a questão da participação ativa dos agricultores.

Porém, apesar de haver uma orientação para seguir princípios participativos, a maioria das empresas de ATER continua com a mesma orientação básica: “incluir” o pequeno agricultor familiar na lógica do mercado, torná-lo cada vez mais dependente dos insumos industrializados, subordinando-o ao capital industrial.
O desafio dos órgãos de pesquisa, universidades e movimentos sociais é o de criar estratégias para colocar em prática metodologias participativas de ATER, que incluam os agricultores familiares desde a concepção até a aplicação das tecnologias, transformando-os em agentes no processo, valorizando seus conhecimentos e respeitando seus anseios.



Diversificação agrícola.......
 Instituições que geram atividades de pesquisa e transferência de tecnologia utilizando metodologias dialógicas, que valorizam a experiência e respeitam os objetivos do produtor rural, promovendo a soma de conhecimentos pesquisador-agricultor, estimulam o trabalho em grupo e o associativismo para, dessa forma, potencializar o processo participativo.

Fonte : Frederico Olivieri Lisita
Pesquisador - EMBRAPA/CPAP





sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Transnacionais  avançam sobre Moçambique

Os megaprojetos de mineração de Moma e Moatize, no norte e centro de Moçambique, foram implantados com muitos erros, absolutamente evitáveis. O governo moçambicano mostrou falta de transparência e, inclusive, não levou a cabo um diálogo com as mineradoras e com as comunidades afetadas.
Por outro lado, as mineradoras não estão cumprindo com o acordado nos contratos com o governo e as promessas feitas às comunidades afetadas.

Os megaprojetos em questão dedicam-se à exploração de areias pesadas, desenvolvida pela multinacional irlandesa Kenmare – em Moma, província de Nampula, norte de Moçambique – e a extração de carvão mineral, desenvolvida pela brasileira Vale do Rio Doce e pela australiana Riversdale Mining – em Moatize, província de Tete, centro de Moçambique.
Os recursos da extração destes minerais são, na sua totalidade, para a exportação.

Quem representa as comunidades
A empresa Kenmare (que explora areias pesadas em Moma) criou a chamada “Kenmare Moma Associação de Desenvolvimento” KMAD, financiada majoritariamente pela própria empresa, para cuidar do relacionamento entre a empresa e as pessoas que vivem dentro do raio de dez quilômetros do lugar onde foi instalada a mineradora.
Esta associação que desempenha a função de “defensora dos interesses da Comunidade”, diz estar investindo, anualmente, entre 350 e 400 mil dólares para o desenvolvimento de diversos projetos. No entanto, o Secretário Permanente do Distrito de Moma, citado no relatório, afirma que “é uma grande mentira, porque investimentos sociais dessa dimensão nunca passariam despercebidos num distrito muito pobre como este nosso [Moma] (…), se fosse verdade este distrito já estaria com outro visual, mas nada se vê (...)”.
A KMAD diz desenvolver projetos de produção de ovos, frangos e hortaliças, mas o comprador principal é a própria Kenmare, que os oferece aos seus trabalhadores.

Dividir para reinar
Este é o termo utilizado no relatório para se referir aos reassentamentos realizados pela empresa Vale. De novembro de 2009 a abril de 2010, a Vale “arrancou” cerca de 760 famílias camponesas das suas comunidades para dar lugar a aberturas das minas de carvão.
A empresa dividiu as famílias entre rurais e semiurbanas, usando critérios diferenciados para os reassentamentos das mesmas. As famílias consideradas rurais foram reassentadas há cerca de 40 quilômetros da sua comunidade de origem, em Cateme, e as consideradas semiurbanas foram colocadas nas proximidades da vila de Moatize no bairro 25 de Setembro.


Exploração dos recursos nacionais: quem são os verdadeiros beneficiários?
De acordo com o relatório, consta que a Vale pagou pela concessão de Moatize cerca de 120 milhões de dólares, mas, estranhamente, essa verba nunca foi inscrita no Orçamento do Estado Moçambicano. A exploração do carvão de Moatize será efetuada através de mineração a céu aberto, com uma capacidade de cerca de 26 milhões de toneladas de carvão bruto por ano, como referido anteriormente, para exportação.
Tanto em Moma como em Moatize as comunidades afetadas são sempre tratadas como meros objetos dos reassentamentos e que devem, por isso, obedecer aos padrões que as empresas ditam. Os que tentam opor-se ou questionar os termos e mecanismos de compensação são acusados de estar contra o desenvolvimento. Verifica-se, portanto, “a imposição de destinos de reassentamento, falta de diálogo, negociações precárias sobre as compensações, promessas avulsas e descontínuas que nunca se cumprem”, cita o relatório.
Sociedade Civil
Representantes da sociedade civil têm se reunido em diversos espaços, especificamente, seminários e reuniões para debater o caso das famílias atingidas pelas mineradoras, tanto no que se refere às questões do reassentamento, quanto às de precarização do trabalho.
Rui Caetano, da Associação de Apoio e Assistência Jurídica às Comunidades, critica a forma como a Vale está tratando o povo moçambicano. Pare este ativista, o que a Vale está fazendo em Moçambique “é um crime hediondo e uma vergonha para um Estado de direito”.

Autoridades locais impotentes
As autoridades governamentais locais sentem-se impotentes para agir contra as multinacionais porque sabem que as empresas estão ligadas a altos dirigentes do país, em nível central. Por exemplo, cita o documento, “as relações da Vale junto das autoridades moçambicanas são fortes, sendo que Roger Agnelli, o presidente-executivo da empresa, é assessor do Chefe de Estado, Armando Guebuza, para questões de âmbito internacional”. Este fato torna os governantes de nível inferior incapazes de agir por medo de ferir interesses dos chefes de Maputo.
O relatório conclui afirmando que a indústria mineradora constitui uma forma específica e concreta de acumulação capitalista primitiva em Moçambique, sendo levada a cabo sem exigência de preservação ambiental e respectiva fiscalização pelo Estado Moçambicano.
fonte : brasildefato.com.br